Uma carta anteriormente não documentada escrita por Ellen G. White, profetisa da Igreja Adventista do Sétimo Dia, foi descoberta nos arquivos do Pacific Union College (PUC). Vários estudiosos revisaram a carta e confirmaram que o documento está de fato na caligrafia de Ellen White.

Trata-se de uma carta pessoal enviada ao evangelista e missionário John Orr Corliss. Seu conteúdo retrada um desabafo sobre a incredulidade nos testemunhos, sementes que levariam mais de seis anos até amadurecerem no espírito de Mineápolis, a maior crise da IASD. Na Bíblia, vemos vários personagens que lamentaram a obstinação do povo de Deus. O próprio Jesus disse: “Já vo-lo disse, e não o credes”. O capítulo de João 10 testemunha sobre o poder da incredulidade dos líderes judeus. DS

A descoberta de cartas, até então desconhecidas, não é de surpreender, já que Ellen White escreveu milhares delas a pessoas em todos os continentes. Talvez o motivo de não ter sido guardada uma cópia no White Estate seja a indisponibilidade de uma secretária fazer a revisão e cópia para o arquivo, haja vista os erros ortográficos e a falta de pontuação, pois foi escrita durante uma campal. DS

Em 2015, Katharine Van Arsdale, arquivista oficial da PUC, encontrou o que parecia ser uma carta de Ellen G. White em um pequeno armário de metal projetado para armazenar mapas. Ela notou que a carta, datada de 9 de maio de 1882 ‒ um mês depois que a PUC começou a dar aulas oficialmente ‒ estava incompleta e não tinha uma assinatura, embora alguém tivesse escrito a lápis que autora era a Sra. White (de ponta cabeça no cabeçalho da carta).

“Eu regularmente levava essa carta comigo para as aulas como um dos vários artefatos que ilustram a história da PUC e o conteúdo seus arquivos”, diz Katharine. “Eu a mostrava aos alunos como algo ‘provavelmente’ escrito por Ellen White”.

No início de 2019, a professora Katharine apresentou a carta a uma turma de calouros. Entre eles estava James Wibberding, professor associado de teologia aplicada e estudos bíblicos. Durante a aula, ela perguntou a Wibberding se por acaso ele saberia dizer se era de fato uma carta de Ellen White.

“Ele imediatamente tirou uma foto dela e a enviou via texto para Michael Campbell, um amigo dele na Southwestern Adventist University, que é amplamente versado nas correspondências da Sra. White”, diz Katharine. Este contato foi fundamental para autenticar a carta. Campbell, professor associado de religião na SWAU, reconheceu imediatamente o estilo distintivo, a caligrafia e a ortografia da profetisa adventista.

“Em 24 horas, a carta recém-recuperada estava sendo analisada, transcrita e até discutida em aulas por todo o país”, relatou Eric Anderson, professor emérito de história e diretor do Centro de História Adventista da PUC, que coleta materiais históricos relativos à história do colégio.

Entre os estudiosos que confirmaram a autenticidade do documento estão Ronald Graybill, professor aposentado, anteriormente do White Estate, e autor de vários livros sobre Ellen White; Kevin Morgan, pastor e escritor sobre Ellen White; e Tim Poirier, do White Estate.

A carta está incompleta, termina sem conclusão e sem assinatura. Abaixo está o documento traduzido. Palavras como “espírito” [santo] e “testemunhos” estão em minúsculo no original. Boa parte da pontuação foi acrescentada para facilitar a compreensão. DS

“Hanford Tulare, Califórnia, 9 de maio de 1882.

Caro irmão Corliss,

Recebi sua carta esta manhã e fiquei feliz em lê-la. Estou pressionada com muita escrita e me sinto inclinada a direcionar uma palavra para você. Estamos no meio da nossa reunião campal. O Senhor me fortaleceu para levar adiante um poderoso testemunho que impressionou o povo. Este povo teve poucos privilégios religiosos e pouca pregação. Foi um banquete ouvir os testemunhos deles nesta manhã. Eles deveras tinham algo a dizer. Palavras de experiência inteligentes vieram de muitas pessoas que mostraram que o Senhor estava trabalhando em seus corações.

Nosso trabalho é falar muito sobre a piedade prática. O grande perigo de nosso povo que teve grande luz é não apreciar seus privilégios e oportunidades como bênçãos de Deus do mais alto valor. Os discípulos não apreciaram o alto privilégio de ter Jesus em seu meio até que sua bênção fosse removida deles. Então sentiram a falta de Jesus. Eles não sabiam o que ele era para eles até que fosse tarde demais. Assim é com todos nós. Não conhecemos nem apreciamos o dom salvífico de Deus à luz das oportunidades que ele nos concede. Se os testemunhos de seu espírito fossem valorizados como a voz de Deus aos homens em advertências e em conselhos de repreensão, nosso povo não seria tão frio e morno como é hoje. É a incredulidade crescente nos testemunhos do espírito de Deus que deixa as pessoas na escuridão.

Consideremos este assunto. É esta a voz de Deus? Ele expressou sua vontade [?] Ele avisou sobre o perigo [?] Ele apresentou ao seu povo o que eles devem fazer e o que devem ser para serem salvos? Mas as pessoas não prestam atenção.

Alguns que professam ser líderes, explicando as escrituras, são indiferentes à palavra de Deus como se [ela] fosse barro. E se eles tratarem [os testemunhos] com desrespeito, quão mais fácil será essa incredulidade e esse desrespeito ser aceito do que a genuína fé. E por quê? Porque o coração natural está em harmonia com esta incredulidade. Agrada ao coração carnal estar imperturbado em seus erros e pecados, e se eles podem encontrar a menor desculpa para desmerecer o valor desses testemunhos, eles se sentem mais à vontade em sua indulgência egoísta. Oh, quão fácil é um pequeno punhado de fermento de incredulidade fermentar a massa.

Espalhar esses testemunhos é de fato a vontade de Deus para o povo. Então, como podemos considerar o trabalho e a influência daqueles que não reconhecem a voz de Deus nos testemunhos que viram, mas que arregimentaram o coração contra eles? Cuja [Sua] voz nunca é ouvida entre o povo, instando-os a dar atenção à luz do trono de Deus. Como o trabalho deles ficará no julgamento? Quantos têm esses ministros influenciado para não darem ouvidos à voz de Deus? Porque sua obra é de tal natureza que teria sido melhor para o povo de Deus, no final das contas, se sua voz nunca tivesse sido ouvida como um vigia sobre os muros de Sião. Ele [o povo] colocou maior confiança em seu próprio julgamento finito do que nas palavras que Deus envia.

Chegará o tempo em que as pessoas verão isso em seu verdadeiro significado, mas será tarde demais para desfazer o passado. Eles cobram desses ministros a perda de suas almas. E esses ministros estão entre nós hoje. Esses homens estão exaltando suas próprias ideias e planos acima da luz que Deus lhes deu. Esses homens permitem que o eu se insira entre eles e o povo e que bloqueie os raios de luz do céu dados ao povo. Onde não há visão o povo perece.

Quão fácil é para o povo olhar para o seu ministro em vez de ir a Deus por si mesmo e servi-lo conscienciosamente, sabendo por si mesmo o que vem de Deus. Uma só insinuação de desrespeito em relação à luz dada no testemunho irá mais longe em mentes não iluminadas pela graça especial de Deus do que cinquenta sermões para provar sua validade. Aqueles que semeiam a incredulidade colherão a colheita que semearam. A semente brotará e dará frutos, uma colheita de incredulidade. Ele pode [posteriormente] ter sua fé confirmada e, em seguida, desejar reunir as sementes de incredulidade e infidelidade que semeou, mas pode recolhê-las? De forma alguma. Ele poderia trabalhar com toda o sua capacidade dia a dia, mas não poderia reunir as sementes da dúvida e questionamento que semeou.

Alguns de nossos ministros optam por não acreditar, porque têm muito trabalho sério a ser feito para corrigir as falhas de seus caracteres e purificar suas vidas. É muito trabalho. Se eles podem acalmar suas consciências dizendo que os testemunhos não são de Deus, eles se sentem à vontade para continuar com seus erros. Eu lhes digo que há uma licenciosidade em nossas fileiras que é medonha. Há falta de virtude e honestidade.

Apenas destrua a confiança das pessoas nos testemunhos do espírito de Deus e veremos um estado de coisas tão desmoralizado que não sonhamos pudesse existir.”

Resta orarmos para que a descoberta desta carta não tenha sido em vão. Apelo aos pastores e líderes da IASD para que levem essas advertências a sério. A parcela de pastores que come carne testifica de maneira gritante a incredulidade dos líderes na inspiração da mensageira do Senhor.
Queridos ministros, escutai e inclinai os ouvidos; não vos ensoberbeçais, porque o Senhor falou. Dai glória ao Senhor vosso Deus, antes que venha a escuridão e antes que tropecem vossos pés nos montes tenebrosos; antes que, esperando vós luz, ele a mude em densas trevas, e a reduza a profunda escuridão. Mas, se não ouvirdes, minha alma chorará em oculto, por causa da vossa soberba; e amargamente chorarão os meus olhos, e se desfarão em lágrimas, porque o rebanho do Senhor é levado cativo. Jr 13:15-17, Bíblia White.

Trechos da autoria de Daniel Silveira estão indicados com a abreviatura DS. O restante do texto explicativo na primeira metade da postagem é do site do Pacific Union College https://www.puc.edu/news/archives/2019/ellen-white-letter-discovered-at-pacific-union-college-experts-confirm-authenticity

Daniel Silveira
Capitólio, MG 🇧🇷