Recebi de alguns simpatizantes um recado por Whatsapp que supostamente se trata de um voto feito pela igreja. Tentei averiguar na internet, pois queria crer que a igreja abraçou o valor da transparência, mas não encontrei.

No entanto, como foram pessoas próximas à administração, independentes umas das outras, que me mandaram o texto, vou considerar a redação abaixo como autêntico. Vejamos:

Nota: Foram acrescentados comentários meus ao longo do voto com o intuito de responder os questionamentos.

  1. UCB – VOTO DE DESAPROVAÇÃO AOS LÍDERES E SIMPATIZANTES DO CONGRESSO MVConsiderando que os líderes e simpatizantes do Congresso MV têm revelado um espírito crítico e de insubordinação à Igreja Adventista do Sétimo Dia como instituição, comprometendo, assim, o dom precioso do corpo de Cristo, a unidade da Igreja;

Comentário: Somos subordinados aos líderes dentro de sua devida esfera de ação, dentro de sua jurisdição. Os encontros privados não estão na alçada da igreja, mesmo que tratem de assuntos religiosos.

que o Congresso MV, em um dos seus encontros oficiais, programou e promoveu uma cerimônia religiosa de casamento de simpatizantes não oficiada por um pastor ordenado;

Comentário: O tema do último Congresso MV foi felicidade matrimonial: “Dois em Um”. Para finalizar, realizamos a cerimônia religiosa de um casal que se conheceu no Congresso MV, o Potágoras e a Giovania. Foi convidado um pastor para realizar a cerimônia, mas como ele não aceitou, quem fez a oração da bênção foi um ancião ordenado da IASD, o mais alto oficial da igreja que pudemos encontrar.

que o Congresso MV representa um movimento que defende padrões teológicos de tendência perfeccionista; que o Congresso MV tem incentivado seus simpatizantes a devolverem dízimos e ofertas de forma independente à Igreja Adventista do Sétimo Dia;

Comentário:  Entendemos que este voto surgiu tendo como estopim uma arrecadação para um pastor que foi exonerado da obra da IASD, Rivaildo. Na matéria, dissemos que é lícito usar dinheiro de dízimo, nesse caso extraordinário, citando textos da profetisa.

que o Congresso MV está associado ao IAGE (Instituto de Agricultura e Evangelismo) na reprodução de materiais autorais em desacordo com o que prevê as políticas de uso de direitos autorais por parte do Ellen G. White Estate e da Igreja Adventista do Sétimo Dia;

Comentário:  Sim, estamos associados ao IAGE, e já tratamos da questão dos direitos autorais aqui nesta matéria.

que a liderança do Congresso MV, ao promover uma bíblia particular, gera dúvidas e confusão entre os membros e opróbrio à Igreja Adventista do Sétimo Dia, por razões especificadas no documento oficial da organização disponível em https://noticias.adventistas.org/pt/notas-oficiais/esclarecimentos-sobre-a- biblia-white/

Comentário: Será que a Bíblia de Andrews também poderia ser classificada como particular da IASD? E a tradução de Lutero, será que também poderia ser classificada como particular? E a fim de sanar dúvidas e confusão, temos feito vários vídeos e artigos. Estamos disponíveis para sanar quaisquer dúvidas. Opróbrio à igreja? Por erguer bem alto a tocha do dom profético que possuímos? Então deve estar se referindo ao opróbrio da cruz, e o levaremos com prazer.

… Considerando que o público alvo primordial do Congresso MV são os membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia no território da UCB por meio de encontros não promovidos ou recomendado3s pela Igreja que evidenciam seu caráter independente;

Comentário: Nosso púbico alvo é todo o território nacional, todo o Brasil. Também temos caráter diplomaticamente independente, o que nos torna singulares. Não estamos presos por mordaças e cabrestos, e não queremos tornar a nos submeter a um jugo corporativista. Valorizamos a unidade no Espírito, de doutrinas fundamentais e de missão.

VOTADO registrar a desaprovação oficial ao Congresso MV, seus líderes e simpatizantes, por incorrerem nos motivos expostos no Manual da Igreja, quanto às razões para disciplina eclesiástica, nos itens 9, 10 e 11, ficando sujeitos à censura e disciplina da Igreja (MI, edição 2015, p.64). 

Ao mesmo tempo, apela aos líderes e membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia que mantenham a unidade do Corpo de Cristo.

Para ficar claro, vejamos o que diz o Manual da Igreja na p. 64 (Razões para Disciplina):

Item 9:  “Conduta desordenada que traga opróbrio sobre a igreja.ˮ

Gostaria de saber qual conduta minha foi desordenada, e que opróbrio foi trazido sobre a igreja. Seria talvez o youtuber do Centro de Apologética CACP? O não-adventista se surpreendeu com a Bíblia White e disse que os adventistas estão indo mais fundo na “whitolatria”. Vídeo 1 e Vídeo 2. O IAGE informou que ele comprou sua Bíblia no dia 19 de junho, ou seja, bem depois de terem sido publicados artigos de Michelson Borges e de ter surgido a nota quase-oficial e a nota oficial da igreja. Caso não houvesse esse “levantar de ondas” por parte da instituição, dando propaganda à Bíblia, provavelmente o caso não teria transbordado para fora dos limites da IASD.

Mas afinal, se eles se escandalizam com uma Bíblia, que essencialmente é a King James com comentários de Ellen White, e corrigida por ela em alguns lugares (o espírito dos profetas estão sujeitos aos profetas, 1Co 14:32), que nos chamem de seita! Se ostentamos o testemunho de Jesus, com a autoridade conferida por Deus, que nos chamem de fundamentalistas; vamos carregar isso como uma faixa de honra, pois de fato é o vitupério da cruz. Eu aqui com Jesus, a vergonha da cruz, quero sempre levar e sofrer.

Item 10: “Adesão ou participação em movimento ou organização separatista ou desleal (ver p. 61).”

Sou grato por essa referência da página 61, pois, caso contrário, esse ponto seria usado para condenar qualquer movimento que estivesse fora dos parâmetros dos administradores da igreja. Vejamos o que diz a página 61:

“Embora todos os membros tenham direitos iguais dentro da igreja, nenhum membro, individualmente ou em grupo, deve iniciar um movimento, formar uma organização ou buscar motivar adeptos a fim de alcançar qualquer objetivo, ou para o ensino de qualquer doutrina ou mensagem que não estejam em harmonia com os objetivos e ensinamentos religiosos fundamentais da igreja.ˮ

Tal ponto de questionamento definitivamente não se aplica ao Congresso MV. Sustentamos todas as 28 crenças fundamentais da igreja. Até sobre a Trindade. Sim, o Congresso MV é trinitariano.

Item 11: “Persistente recusa em reconhecer a autoridade da igreja devidamente constituída, ou em não se submeter à ordem e disciplina da igreja.ˮ

Obviamente, dentro de sua esfera, dentro de sua jurisdição, reconhecemos a autoridade da igreja. Suponhamos que um pastor arbitrariamente peça para eu tirar meu cavanhaque antes de entrar na igreja; não é preciso obedecê-lo, pois isso está fora da sua jurisdição. O mesmo acontece com o Congresso MV, os encontros são de natureza privada e acontecem em um hotel. Esse hotel não pertence à obra. Nos reunimos e exercemos a liberdade de expressão, mesmo em assuntos religiosos.

Ellen White seria disciplinada também? Vocês sabiam que Ellen White quase organizou um evento independente assim? Depois de Mineápolis, em 1888, Urias Smith era o guardião teológico de Battle Creek, e queria impedir Jones de pregar no Tabernáculo. EGW contestou: “Mas se ele [Urias Smith] mantém essa posição, vamos assegurar um salão na cidade, e as pessoas receberão as palavras que Deus deu ao irmão Jones para falar-lhesˮ (1888, 847.1). Pouco mais tarde, como a igreja não queria imprimir o Grande Conflito para os colportores trabalharem com ele, a profetisa também considerou a possibilidade de formar uma equipe de colportores à parte: “Só me resta um caminho; isto é, levantar e treinar uma equipe de colportores para este trabalho especialˮ (1888, 657.4). Será que a profetisa teria sido disciplinada por recusar reconhecer a autoridade da igreja ou não se submeter? Reflitamos nisso. Felizmente não foi necessário seguir esse plano B, pois a instituição acatou a repreensão e também deixou de realizar trabalho comercial não-adventista. Por isso, o plano A continuou sendo seguido na colportagem.

Ivan Saraiva. Ah, falando em Manual da Igreja e em disciplina, logo depois desses pontos, no subtítulo Processo de Disciplina, está escrito:

“Quando se trata de pecados graves, a igreja tem duas maneiras de aplicar a disciplina: i) Por um voto de censura. ii) Por um voto de remoção da qualidade de membro da igreja.ˮ (MI, p. 65).

No caso do adultério, é necessário aplicar a remoção da qualidade de membro, sendo a readmissão feita por rebatismo. Se Ivan Saraiva cometeu delito suficiente para perder o cargo na Novo Tempo e sua credencial, não seria o caso claríssimo de sua remoção como qualidade de membro? E o campo no qual Ivan Saraiva estava ativo era justamente na UCB, portanto este apelo está nas mãos certas, podem encaminhar também para os líderes de Sobral, Ceará, e para o próprio Ivan Saraiva (liguei para a UNINTA, mas eles não liberaram o e-mail dele). Sobre a justificativa para esse procedimento, ver 1Timóteo 5:20. Caso as imagens de seu rebatismo não sejam publicadas, ou a situação não seja esclarecida publicamente, ou ainda alguma medida seja tomada, será feito um apelo por vídeo. Acautelem-se de negar ou acobertar, pois todos os pastores sabem o que aconteceu.

Queridos, só estamos tomando essa medida porque outros meios falharam. Um dos objetivos é resgatar a confiança dos membros da igreja em sua liderança. Chegou a hora de termos uma liderança responsável e transparente, e, acima de tudo, humilde. “Dois pesos diferentes e duas espécies de medida são abominação ao Senhor, tanto um como outroˮ (Pv 20:10). Levantar a mão pesada em rebelião ao Céu só vai trazer opróbrio à causa de Deus. Ainda há tempo para essas medidas de reforma serem tomadas de forma discreta. Mas se forem necessários Neemias modernos que desencadeiem as correções pela dor, seguiremos o exemplo do reformador de Israel.

Forçação de Barra. Aproveitando que estamos trabalhando o Manual da Igreja, remeto à página 66:

“Nenhuma Prova Adicional de Discipulado Nenhum ministro, congregação ou Associação possui autoridade para estabelecer provas de discipulado. Essa autoridade pertence à Assembleia da Associação Geral. Portanto, qualquer pessoa que busca aplicar provas além das que são estabelecidas aqui, não representa apropriadamente a igreja.ˮ

Ou seja, não pode ser levantado nenhum critério novo, como a questão do perfeccionismo, ou o julgamento individual em como devolver os dízimos. Esses motivos são forçar a barra e não têm respaldo no manual da igreja. Portanto, são ilegítimos e inconstitucionais.

Simpatizantes. O que me surpreendeu ao ver esse rascunho de voto não foram principalmente os motivos alegados, mas a repetida referência aos simpatizantes do Congresso MV. Eles também estariam em perigo de ser censurados. Mas simpatia não se consegue ou não se bane por meio de ameaças, mas se conquista. Ademais, onde está o limite? Será que “simpatizantes dos simpatizantes” também estão em perigo de ser flagrados pelo radar? Amigo do amigo, afinal, também é amigo. Vocês têm certeza que querem entrar nessa frente de batalha? E curtir um vídeo do MV no Youtube é expressão de simpatia? Qual a diferença entre assistir os vídeos MV em casa ou em pessoa? De certa forma, assistir em vídeo até tem mais efeito porque pode se dar pausa, repetir, e até compartilhar com simpatizantes.

Nicodemos e Gamaliel. Não sei quem escreveu esse rascunho de voto. Talvez nem tenha sido uma comissão que votou isso, mas uma pessoa apenas, pois, repito, não foi publicado no “diário oficial”, o site da UCB. Mas seja lá quem participou dessa reunião, ou se teve quórum, o fato é que não houve pessoas com o espírito de Nicodemos, senão elas teriam protestado: “Porventura condena nosso manual um evento sem primeiro ter participado dele e experimentado como é?” (ver João 7:51). Aliás, a promessa do Pr. Almir Marroni ‒ um dos oficiais da DSA ‒ ainda está em aberto. Ele afirmou que visitaria o Congresso MV antes de condená-lo. Isso foi em 2014. Não temos conhecimento de algum representante da DSA ter visitado o Congresso MV desde então, apesar dos repetidos convites.

Homens com o espírito de Gamaliel também não participaram dessa comissão, pois também teriam dito: “Varões adventistas, acautelai-vos a respeito do que estai para fazer a estes homens… deixa-os, porque este movimento dos Missionários Voluntários, caso seja dos homens, se desfará; mas se é de Deus, não podereis derrotá-los; para que não sejais, porventura, achados até combatendo contra Deusˮ.